domingo, 30 de agosto de 2009

Gino Severini

“A beleza de uma composição depende da maneira como as linhas e os ângulos contrastam e se respondem; mas a dificuldade maior consiste em distribuir bem os pontos de referência, os centros de simetrias e os pesos, para dirigir a vista do espectador para os pontos importantes, proporcionando-lhes repouso, pausas ou intervalos...”.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A Sesta da Sexta


Da grande janela do segundo pavimento ouço chegar uma ajudantezinha com uma vassoura do tamanho de um banco. Entre todas, esta é a vassoura certa! Quer ajudar o jardineiro a recolher as folhas secas. Um pequeno muro separa o concreto de uma mata exuberante. Posso colocar neste balde? Chegou um pássaro marrom e vermelho e se instalou em baixo do sofá de couro. A pequena ajudante exclamou e disse que tínhamos agora, mais um filhote para cuidar. Tenho quase tudo para hortas, você pode usar o meu regador! O pássaro assustado se debateu e subiu pela janela e virou mais uma folha entre as árvores. Uma minhoca venenosa! Gritou e subiu no banco de madeira que fez um barulho de madeira. Você sabia que o barro faz bem para as plantas? No mesmo instante uma pomba do mato fez uh-uh. Barulho de folhas secas. Cava, cava, cava. Você devia pegar o barro, sabia? Mas o jardineiro continuava em seu silêncio verde. Sons opacos de cordas de um violão vindos do quarto ensolarado. E, depois do almoço, Nikos Kazantzakis continua passeando pela Grécia no livro fechado, enquanto continuo deitado em almofadões de tecido áspero, sobre um macio colchão, meio que olhando pela janela a luz filtrada pelas árvores e meio que dormindo.

Arquitetura e Pintura


Arquitetura e pintura andam de mãos dadas nas telas de Sérgio Ramos. O artista, que faz trabalhos para design, arquitetura e pintura, deixa entrever em suas obras traços peculiares que revelam a sua identidade, como o uso de tintas com tons terrosos, o equilíbrio e disposição dos objetos, ícones recorrentes nas telas e o desenho medido e meticuloso, mostrando a proximidade com a arquitetura. Trabalhos para decoração, design, arquitetura, ilustração e pintura são algumas das multifacetas da arte bem desenvolvidas pelas mãos de Sérgio Ramos, mas é com as telas que ele melhor revela sua identidade. Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, em Arquitetura e Urbanismo, conseguiu sua primeira exposição ainda como estudante, em 1990, no espaço do Cineclube cedido pela universidade. Dentre outros prêmios, o artista lembra de um que ganhou, pela categoria Artes Plásticas, em Nova York. "Nesse prêmio eram mais de 5000 concorrentes. Eu trabalhei com tinta pra tecido em material reciclado". Com uma semana em NY, o pintor ficou feliz em visitar museus e galerias na cidade. O estilo peculiar de Sérgio Ramos imprime em suas obras a possibilidade de a reconhecermos mesmo antes de ver a assinatura.
Jornal Novas Técnicas

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Henri Matisse

"Esforço-me por alcançar uma arte de equilíbrio, de pureza - uma arte que não desassossegue ou confunda. Gostaria que o Homem cansado, sobrecarregado, acabado, encontrasse paz e sossego nos meus quadros." Henri Matisse

no tabuleiro, um eclipse .


no tabuleiro, um eclipse .

outros santos na lenda dourada, das onze mil virgens e do anjo das anunciações: a primeira da vida, a segunda da morte. nenhuma da ressurreição.

o um das fileiras, desistido. este último, dupla sombra, é fabricante do ermo confesso,
habitante do deserto, amigo festivo e inabitável: seco, mas com água dentro.

o retrato suspenso: silêncio. gente que casa a filha.
instável a risada da velha: princesa serena.

hora terça: hermes trimegisto, o tocador de órgão no chão de ladrilhos a arquitetura da prisão em pedaços de papel: não há descortesia nisto. demasiado aleijado, infelizmente.
senhor do mundo coroado de vergonha, arrependido de coração: corpo de ofício.

tranqüilidade duradoura no campo raso: amantes pobres.
precário: deitado no chão à margem, adoração.

sujidade: de joelhos diante dos olhos, o comensal de lembranças.
o copo de água do vigia da pinacoteca. murmúrio e recato: benta artemage.

boa ocasião para aquele que escreve linhas tortas: hosana. sono pesado, verdes de inveja.
última pedra do pintor de domingo, uma possibilidade. riso súbito: aparência.
o vigarista e o piedoso em acidentais cotidianos.

dentro é um quarto: capim santo. farsa.
conversa do outros: monolitos e a carroça dos meninos: loucos de pedra.

mastigar o amolador. o artista de plástico desaparecido no espaço entre duas casas.
o aguadeiro quasi-sympático e a senhora com chapéu e sombrinha.
a guarda velha da pensão e o quebranto nos baús de queixas.

inofensivo, na rua do hospício: vaga.
no tabuleiro, mais um eclipse.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Ricardo Reis

“É como viver, nascemos, vemos os outros a viverem, pomo-nos a viver também, a imitá-los, sem sabermos porquê nem para quê.”

O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago, p.183

Alex Lipszyc


"Não acredito que a técnica suplante o “conteúdo”, mas sei que para o mercado em geral, as pessoas leigas olham para o “fazer”...vc já deve ter escutado: Nossa que trabalho! Quanto tempo vc levou para fazer isso? Que vergonha...se vc tivesse levado 5 minutos, já é suficiente para mostrar seu conteúdo..O Ser-humano dá importância ao “tempo” gasto, e não ao que a peça quer dizer, quer explorar. De qualquer maneira gostei de seu trabalho..devo até dizer que encontro uma raíz Brasileira e uma alma internacional. As imagens que vi, mostram personagens Brasileiros em situações Brasileiras e costumes Brasileiros. Vejo tb uma junção cromática e formal que revela uma preocupação em mostrar um mundo conhecido por nós, simples e alegre. Sua arte é um Koan, Hamelins e Todos os Santos, nela encontro, además da técnica, uma procura de um mundo feliz e cheio de histórias para serem contadas. Pensei até arriscar que seu “mundo pictórico”, este mesmo das intercecções/junções de imagens, pudesse ganhar este formato tridimensional...

Alex Lipszyc, diretor de marketing da associação brasileira de designers de interiores

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sancho Pança - Sobre Vinhos


“Nisto de vinhos, basta que eu cheire qualquer, e logo lhe acerto com a pátria, com a linhagem, com o sabor, com a duração, e com as contas que há de dar. Mas não admira, que eu tive na minha linhagem, por parte de meu pai, os dois maiores entendedores que tem havido na Mancha, e como prova, eu vou dizer o que lhes sucedeu. Deram-lhes a provar o vinho dum tonel, perguntando-lhes o seu parecer a respeito do estado, qualidade, bondade ou maldade do vinho. Um provou-o com a ponta da língua, o outro só o chegou ao nariz. O primeiro disse que o vinho sabia a ferro, o segundo, que sabia a couro. Respondeu o dono que o tonel estava limpo, e que tal vinho não tinha adubo algum onde lhe viesse o gosto do couro, ou do ferro. Com tudo isto, os dois famosos provadores afirmaram o que tinham dito. Correu o tempo, vendeu-se o vinho, e ao limpar-se o tonel acharam dentro uma pequena chave, pendente duma correia.”

Teia Cronópios


Autora: G. Brahm
"Estava escrevendo meu livro Caixa de Milagres, quando conversando com uma amiga do Rio Grande do Sul, ela me disse para entrar no site Cronopinhos para observarmos como os escritores estavam divulgando seus trabalhos. Entrei e adorei o formato brincalhão e dinâmico do site. Eu tinha acabado de enviar meu livro para editoração e não tinha gostado da ilustração da capa. Não era bem o que eu esperava. Entrei então, na seção "Ilustradores' do site e fiquei absolutamente maravilhada com as ilustrações de Sérgio Ramos - conheça o seu portfolio no portal:
Resolvi entrar em contato através do site com Sérgio e só depois fiquei sabendo que ele também era mineiro, de Viçosa. A internet tem dessas coisas, é capaz de aproximar quem está distante e conectar quem está na mesma energia. Foi incrível nosso contato. Meu livro e projetos pareciam encaixar na arte de Sérgio como luva. As recorrentes fantasias que se interpunham umas as outras em mosaicos coloridos formando figuras em estilo cubista prenderam minha atenção, fazendo-me ficar absorta olhando, horas a fio, o milagre da pintura de Sérgio Ramos. Até hoje, não conheço pessoalmente Sérgio, mas sua alma vibra exatamente com o que sinto. Nosso contato é tranqüilo, dinâmico, profissional. Com apenas uma ou duas conversas acertamos os passos de nosso trabalho em conjunto. Ele se tornou o meu ilustrador predileto e agora ficou difícil separar minha obra de sua arte. Tenho receio que o leitor reclame, caso não estejamos juntos nos projetos.No momento, estamos trabalhando na ilustração de vários livros infantis: entre eles: Caixa de Milagres, Onça-Concha; As Mazelas de Lizbella, Óculos mágicos entre outros, além do meu próximo livro de poemas: Em Paralelo.Mas o que mais me prende nesse contato é a liberdade de expressão, o pouco falar e o muito sentir e o jeito desencanado, perfeccionista e criativo de Sérgio. Além do mais eu tenho certeza que um portal se abriu. Sinto isso pela forma como as coisas acontecem depois que comecei a trabalhar em Caixa de Milagres. Um milagre se sucedeu a outro e muitos artistas se juntaram contribuindo seja com a música, seja com os ritmos, com os desenhos, as pinturas ou com a arte de contar estórias,cantar, compor, dramatizar e interpretar poemas, histórias e melodias; que acabou culmiando em um belo Projeto chamado: Arte e poesia pra gente! Este projeto visa levar a arte e a poesia ao alcance de todos, tendo a poesia como a grande aglutinadora de outras artes que se chegam e compõe o grande mosaico artístico no universo que encanta as pessoas sensíveis. Costumo dizer que se os olhos e os sentidos forem tocados, facilitamos nosso grande trabalho e quem sabe os milagres serão mesmo percebidos e multiplicados. A internet neste sentido é nossa grande aliada! Através de Sérgio vim a conhecer Pipol que gentilmente entrou em contato comigo, após e-mail que lhe enviei, parabenizando pelos sites Cronópios & Cronopinhos e pelos efeitos que nos proporcionou e tem nos proporcionado a cada dia, não só como meio de divulgação, mas como um espaço diferenciado e marcante; inteligente e brincalhão que aproxima quem acredita em boas companhias, arte e comunhão de espírito."
G. Brahm é pseudônimo da escritora Regina Carvalho. Ela é também psicóloga e empresária.

"Quando olho para a arte de Sérgio Ramos algo me parece muito familiar. Sinto um efeito hipnótico. Fico olhando, olhando, olhando.... Passaria dias olhando sem me cansar! Sinto algo indescritível, mágico, que me provoca umcerto encantamento, misterioso, delicioso... Me remete a lugares, paisagens, lembranças de umtempo que não mais voltará, mas que foi muito bom!Originalidade, essência, simplicidade detalhada commuita arte! Um mosaico de boas sensações, gosto refinado,cores que revelam tons marcantes e um mundo deexperimentações que ninguém deve perder! Essa é arte de Sérgio Ramos, artista mineiro, "supergente boa", super competente, que nos premia combeleza rara, raros prazeres e uma ousadia discreta e leve de quem sabe não só fazer arte, mas mexe com a vidada Gente de forma intrigante e marcante!" G. Brahm - (Escritora do livro: Caixa de Milagres - ilustrado por Sergio Ramos)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Exposição Galeria Quadrante Campinas SP








Um artista metafísico.

Sérgio Ramos se revela em cada traço, no espaço lúdico que constrói e que circunda tudo que cria. É capaz de conduzir o observador a um mundo imaginário, transcendente e cheio de fantasia, usando temas singelos e imagens familiares. Essa é a grande magia de sua obra.

Por outro lado, Sérgio é um acadêmico. Combina o conhecimento arquitetônico, com a percepção clássica da arte. Preocupa-se com a estrutura estética, o equilíbrio pictórico e usa de recursos da Gestalt para recriar planos, perspectivas e formas.

Arquiteto de formação, Sérgio Ramos é também designer e ilustrador, com um currículo extenso, é um vulcão criativo que faz do cotidiano objeto de inspiração para provocar uma nova percepção de mundo.

Lucila Vieira / Quadrante Galeria /Junho de 2009

Denise - texto sobre a obra


"Suas pinturas e desenhos são metáforas de objetos do cotidiano que se compreendem, se refletem e se correspondem como em um diálogo. Circunstâncias organizadas por ícones como parte de uma tradução poética, formando uma coleção lúdica, onde brinca com os conceitos de tempo-espaço e gestalt, para ativar os arquétipos da memória. São reminiscências sem saudosismos. Alegorias de um mundo cuja essência não é meramente fictícia. Seu trabalho sugere uma nova interpretação desses objetos em uma atmosfera intimista, típica em suas obras, em tons quase oníricos. Traduzem o inconsciente coletivo através de imagens primordiais, fazendo referência ao nosso arquivo mental: as formas simples ilustram histórias onde todos já fomos protagonistas."

domingo, 23 de agosto de 2009

Estaleiro

Não joguem areia um no outro! Praia magnífica, uma bruma azul envolve todo o cenário: um deque de areia e pedra. E sombra. Não gostei, as crianças não param de correr. As fotos não ficaram muito boas. Abram bem os braços! Do outro lado do deque brumado, areia quente. Movimento dos braços sujos de areia. Criança tem cada idéia. sujar os braços... Não passem em frente da câmera. As pedras estão quentes. Umidade. Gosto quando você lê o que escrevo. Uma bicicleta passa com um homem de boné. Acha graça das poses para a foto. Ondas e barulho no ritmo da preguiça. Praia imensa, somos tão poucos e pequenos. Mas temos que ficar juntos, sempre nos importunando. É tão insólito todos esses carros passando. Veio o caminhão de gás com a sua música de três notas. Uma concha na areia desenhada com um palito de picolé. Menino com pipa no céu azul e branco, tem um desenho em cruz de malta. Cuidado com os caminhões de gás azuis e brancos. Biscoitos de café, água, cervejas e livros. Um beijo de areia. Isto aqui é o paraíso. Aquela cadeira ali não abriu direito. O mar não vai chegar até ao castelo, mas mesmo assim foram verificar. Entrevado na cadeira de praia com dor nas costas. Cuidado com os livros. Me passe o biscoito recheado, obrigado. Onde está aquela pedra? Devolva para o seu lugar. Vai demorar mais uma hora ainda para a água chegar no castelo com oito torres e um siri como rei. Onde é a nossa casa? Não gritem nos meus ouvidos. Passa uma senhora carregando uma trempe com carvão aceso: vende queijos derretidos. Passa o dia a caminhar ao lado do calor intenso: inferno ambulante. Troquem a roupa, ponham as secas. Saramago se transformou num elefante e a morte sorri quando demora a chegar. Passa um barco veloz, espuma. Os quartos ficam cheios nos fins de semana e depois todos vão embora. Em janeiro as pessoas são todas iguais. Um carrinho tradicional de sorvetes, há muitos anos que não vejo um. Todo vermelho com um grande toldo também vermelho. Se forem para a água novamente, vistam as camisetas para protegerem os ombros do sol. Imagino esta paisagem há mil anos. Objeto desconhecido. Tanto faz, existia como existe hoje, só que havia mais silêncio e não havia ninguém para escutar esse silêncio. Para a praia, os guarda-sóis são o que mais existe de metafísico: projetam sombras, mas quando não há sol, o mormaço invade e queima por todos os lados. Barulho da pipa de papel tentando vencer o ar. Joga pra cá e pra lá. Menino atento, não pisca, boca aberta e olhos para cima. Pipa acima das árvores é mais uma folha que se desprende e por um fio passa a ser a mão do menino. Observo o silêncio, parece que todos deixaram de falar. As crianças foram tomar um banho quente. Feita de azul, ótimo nome para uma tela. Hora do chocolate, três pedaços para cada um. Estamos esperando novos vizinhos para amanhã, será um casal? O numero seis é o melhor, tem até um pátio, apesar do barulho dos sapos à noite. Um pássaro branco e cinza caminha na grama, só eu o vejo, na verdade, outros também o vêem, mas só tem importância para mim. As crianças estão tentando se jogar da varanda ao chão, sempre armadas com ciúmes e fantasia. Faz muito calor na rede, o tempo parou novamente. Ouço o ribombar de um trovão nas montanhas, enquanto ouço Tom Jobim. Pulei! Quase bateu o queixo. O número cinco é melhor, pois o sol da manhã é direto. Não sei que horas são. Veio ler novamente e sai rindo, se diverte e chama a irmã de chata! Não batam a porta, são três e vinte.


Segundo dia de palavras


O mar é um deserto. Um barco naufragado. A gente nunca vai saber quem são os nossos vizinhos. O rapaz do barco estava lá, só esperando para nos levar através do rio bravo: divina providência. Eu não gosto nem de pensar, disse ele.

Domingo




O Gabriel, meu filho, me ajudou a inaugurar este blog, por isso tem direito a escolher a imagem deste dia...