domingo, 23 de agosto de 2009

Estaleiro

Não joguem areia um no outro! Praia magnífica, uma bruma azul envolve todo o cenário: um deque de areia e pedra. E sombra. Não gostei, as crianças não param de correr. As fotos não ficaram muito boas. Abram bem os braços! Do outro lado do deque brumado, areia quente. Movimento dos braços sujos de areia. Criança tem cada idéia. sujar os braços... Não passem em frente da câmera. As pedras estão quentes. Umidade. Gosto quando você lê o que escrevo. Uma bicicleta passa com um homem de boné. Acha graça das poses para a foto. Ondas e barulho no ritmo da preguiça. Praia imensa, somos tão poucos e pequenos. Mas temos que ficar juntos, sempre nos importunando. É tão insólito todos esses carros passando. Veio o caminhão de gás com a sua música de três notas. Uma concha na areia desenhada com um palito de picolé. Menino com pipa no céu azul e branco, tem um desenho em cruz de malta. Cuidado com os caminhões de gás azuis e brancos. Biscoitos de café, água, cervejas e livros. Um beijo de areia. Isto aqui é o paraíso. Aquela cadeira ali não abriu direito. O mar não vai chegar até ao castelo, mas mesmo assim foram verificar. Entrevado na cadeira de praia com dor nas costas. Cuidado com os livros. Me passe o biscoito recheado, obrigado. Onde está aquela pedra? Devolva para o seu lugar. Vai demorar mais uma hora ainda para a água chegar no castelo com oito torres e um siri como rei. Onde é a nossa casa? Não gritem nos meus ouvidos. Passa uma senhora carregando uma trempe com carvão aceso: vende queijos derretidos. Passa o dia a caminhar ao lado do calor intenso: inferno ambulante. Troquem a roupa, ponham as secas. Saramago se transformou num elefante e a morte sorri quando demora a chegar. Passa um barco veloz, espuma. Os quartos ficam cheios nos fins de semana e depois todos vão embora. Em janeiro as pessoas são todas iguais. Um carrinho tradicional de sorvetes, há muitos anos que não vejo um. Todo vermelho com um grande toldo também vermelho. Se forem para a água novamente, vistam as camisetas para protegerem os ombros do sol. Imagino esta paisagem há mil anos. Objeto desconhecido. Tanto faz, existia como existe hoje, só que havia mais silêncio e não havia ninguém para escutar esse silêncio. Para a praia, os guarda-sóis são o que mais existe de metafísico: projetam sombras, mas quando não há sol, o mormaço invade e queima por todos os lados. Barulho da pipa de papel tentando vencer o ar. Joga pra cá e pra lá. Menino atento, não pisca, boca aberta e olhos para cima. Pipa acima das árvores é mais uma folha que se desprende e por um fio passa a ser a mão do menino. Observo o silêncio, parece que todos deixaram de falar. As crianças foram tomar um banho quente. Feita de azul, ótimo nome para uma tela. Hora do chocolate, três pedaços para cada um. Estamos esperando novos vizinhos para amanhã, será um casal? O numero seis é o melhor, tem até um pátio, apesar do barulho dos sapos à noite. Um pássaro branco e cinza caminha na grama, só eu o vejo, na verdade, outros também o vêem, mas só tem importância para mim. As crianças estão tentando se jogar da varanda ao chão, sempre armadas com ciúmes e fantasia. Faz muito calor na rede, o tempo parou novamente. Ouço o ribombar de um trovão nas montanhas, enquanto ouço Tom Jobim. Pulei! Quase bateu o queixo. O número cinco é melhor, pois o sol da manhã é direto. Não sei que horas são. Veio ler novamente e sai rindo, se diverte e chama a irmã de chata! Não batam a porta, são três e vinte.


Segundo dia de palavras


O mar é um deserto. Um barco naufragado. A gente nunca vai saber quem são os nossos vizinhos. O rapaz do barco estava lá, só esperando para nos levar através do rio bravo: divina providência. Eu não gosto nem de pensar, disse ele.

Um comentário:

  1. Muito interessante, gostei do seu blog..
    Estou seguindo..
    beeijos :)
    By: Sandra Rafaela

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