segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Camaleão na sombra da noite I


Ganhei um pequeno e raro livro de um amigo que sabe tudo de rock progressivo, foi lançado em Portugal em edição de abril de 1990. Seguem algumas traduções dos poemas de Peter Joseph Andrew Hammil e também dos Van der Graaf Generator, que serão postados de tempos em tempos aqui no Blog e “que falam muitas vezes de si como que ilustrando um exemplo de situações da vida levadas ao extremo do arquétipo e, entre as influências principais, podemos encontrar o sentimento trágico de Nietzsche, Beckett e o seu teatro do absurdo, Shakespeare e Jorge Luis Borges, que diz que “o Inglês é, ao mesmo tempo,uma língua latina e uma língua germânica. Freqüentemente há duas palavras para designar a mesma coisa, uma mais sensível, outra mais intelectual. Olhe, dark significa escuridão física e obscure é escuridão mental. Room e space não têm exatamente o mesmo sentido nem designam a mesma coisa.”” (Alexandre Vargas, Assírio & Alvim)

Nota do tradutor

Se, por um lado, qualquer tradução de um texto perde alguma coisa em relação à língua em que esta foi originalmente escrito, por outro alguma coisa poderá também ganhar. Assim nos pareceu acontecer com estes poemas de Peter Hammill, que se ajustam com surpreendente frescura à Língua Portuguesa. A eles procuramos ser o mais fiel possível, da única maneira que nos pareceu natural: recriando-os por vezes livremente, dentro do espírito em que o autor os escreveu.


O Guerreiro

O assassino vive dentro de mim: posso senti-lo quando se mexe. Às vezes está a dormir levemente no sossego do seu quarto. Mas os seus olhos, de repente, abrir-se-ão e através dos meus fitarão: falará com as minhas palavras e retalhar-me-á o pensamento por dentro... o assassino vive.

Os anjos vivem dentro de mim: posso sentir-lhes o sorriso. A sua presença afaga e tranqüiliza a tempestade na cabeça. E o seu amor pode sarar as feridas que fiz. Observam-me no momento em que vou cair – sei que serei agarrado porque os anjos vivem.

Como poderei ser livre?
Como poderei ser ajudado?
Será que eu serei eu mesmo?
Ou será que serei outro?

Mas, vagueando nos meus claustros, pairam os acólitos das trevas e a Cabeça da Morte atira o manto para o canto do meu quarto. E fico fadado. Mas, rindo no pátio, brincam os meus companheiros de juventude e, solene, um velho à espera no telhado da casa – fala a verdade...

Eu, também, vivo dentro de mim e muitas vezes não sei quem sou; sei que não sou nenhum herói – espero não estar amaldiçoado.

Sou apenas um homem e assassinos, anjos, todos eles são: Ditadores, Salvadores e Refugiados na guerra e na paz enquanto o homem viver.

Peter Hammill de “Pawn Hearts”

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